Ao longo da história de Magic: the Gathering, alguns cards foram criados para subverter ou burlar as regras tradicionais de construção de decks, como os Partners, Backgrounds e cartas que permitem um número ilimitado de cópias, como Rat Colony, Shadowborn Apostle e Persistent Petitioners.
Como entusiasta de cards exóticos, vejo essas cartas como uma oportunidade de explorar ideias experimentais, criando decks com uma quantidade elevada de cópias de um único card para potencializar estas mecânicas inusitadas e subverter a regra do "só pode haver um", uma das pedras angulares do Commander.
Neste artigo, compartilho minha análise sobre o card Slime Against Humanity e seu uso no Commander. Além disso, apresento uma avaliação do desempenho do deck que criei com ele, explorando suas sinergias e potencial no formato.

Sobre Limo Contra a Humanidade
À primeira vista, o mais comum que se pense de um deck baseado em Slime Against Humanity é um tribal de lodos. Essa não deixa de ser uma abordagem interessante, tendo em vista que decks tribais são no geral mais fáceis e intuitivos de serem montados. Mas eu gosto de pensar que um card como este tem potencial para uma estratégia menos óbvia.
Isto é, você poderá até preencher slots de seu deck de lodos com algumas cópias de Slime Against Humanity, mas certamente o deck não será focado nisso, pois tudo que este feitiço faz é por mais um lodo em campo e você terá vários outros lodos com habilidades relevantes para pôr neste deck.
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Como é minha intenção manter o card na vanguarda do deck, irei descartar a possibilidade de uma estratégia tribal. Dito isso, o que devemos considerar aqui primeiramente é a possibilidade de se usar uma quantidade razoável de cópias de Slime Against Humanity entre as 99. Quando eu digo “uma quantidade razoável” me refiro a 20 ou mais delas, no mínimo.
Minha experiência prévia com decks “same name” me diz que um número acima de 20 costuma ser o ideal quando se pretende abrir sempre com pelo menos 1 cópia do card na mão inicial. Também é uma quantidade razoável se você pretende “stormar” com Thrumming Stone.

Este artefato é uma das cartas mais fortes quando se fala de decks com este tema. Uma vez em campo, basta jogar um Slime Against Humanity e uma enxurrada deles virá conforme você revela mais cópias do topo de seu grimório com a habilidade ondular. Essas cópias puxadas do grimório também terão ondular, e revelarão outros quatro cards do topo, desencadeando um processo que potencialmente encherá seu campo com várias fichas de lodo, sendo um mais forte que o anterior. É uma jogada interessante, e embora ainda esteja longe de ser algo sensacional ou diferente, já é um começo.
Além disso, cabe observar um detalhe sobre Slime Against Humanity que certamente pode ser explorado mais a fundo. Suas fichas entram maiores conforme a quantidade de cópias do feitiço no cemitério e também no exílio. A princípio, isso não chamou tanto a minha atenção quando vi o card pela primeira vez. Afinal de contas, é fácil explorar a possibilidade de lotar o cemitério com cópias de Slime Against Humanity sem que seja preciso jogá-las, através de efeitos de dredge, self-mill e afins.
Já o exílio parecia um pouco menos provável. Algo como Selective Memory, talvez?! Exilar umas dez cópias (ou qualquer outro número delas que achar interessante para o momento) do grimório, cortando caminho para fazer lodos mais parrudos por apenas 3 manas?

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É uma linha até plausível, mas pouco impactante; além de ser um tanto quanto contraproducente se considerarmos que remover seletivamente tantas cópias de Slime Against Humanity diminuiria as chances das mesmas serem reveladas com Thrumming Stone futuramente. De qualquer maneira, contabilizar também os cards no exílio é bom, pois assim nossa estratégia estaria menos suscetível a remoções de cemitério. Esta seria a única vantagem disso, certo?!
Bom, nem tanto.
Encontrando um Comandante
Uma vez definido o objetivo de explorar o máximo do potencial de Slime Against Humanity, o próximo passo seria escolher a identidade de cores, o comandante e os outros slots – não necessariamente nesta ordem. Cheguei a testar algumas variações em busca do que parecesse mais interessante: Monogreen Storm com Aeve, Progenitor Ooze, RG Spellslingers com Wort, the Raidmother e uma lista mais focada em marcadores com Slurrk, All-Ingesting + Reyhan, Last of the Abzan (que achei particularmente mais divertida). Mas curiosamente, o comandante perfeito para os Slimes eu encontrei jogando com outro deck, num outro formato, quando já nem mais estava jogando com Slime Against Humanity.
Eu estava brincando no MTG Arena testando algum comandante novo de MH3 no Brawl, quando peguei esse oponente jogando com um deck de Illuna, Apex of Wishes. Ele ou Ela começou o jogo fazendo umas fichas de goblin e acelerando com feitiços de ramp, até que conjurou Illuna com mutate e puxou uma Omniscience... E aí, ele não parou mais de jogar.

Poderia ter sido apenas um golpe de sorte; dentre tantas cartas no grimório, ele ter encontrado justamente um encantamento de altíssimo impacto com a habilidade do comandante. Mas não foi o que pareceu. Mais da metade do deck dele foi expelido como se a Omniscience fosse a única coisa que pudesse vir. Daí eu entendi o que tinha acontecido: aquele deck não tinha outras permanentes além dos terrenos e da própria Omniscience.
Todos os slots utilitários tinham sido ocupados por mágicas instantâneas ou feitiços: compras, acelerações de mana, remoções, tudo! E o mais importante: as únicas criaturas que o deck fazia (e que eram importantes para serem alvos da mutação do comandante) eram fichas criadas pelos feitiços.
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Ou seja, a finalidade do deck era fazer as fichas, mutá-las com Illuna, Apex of Wishes e SEMPRE puxar o mesmo encantamento. Depois que essa partida terminou, eu estava fascinado por aquilo. Fiz uma pesquisa depois e não demorou para descobrir que aquele tipo de deck com Illuna, Apex of Wishes + Omniscience não era nenhuma novidade e que haviam pessoas fazendo isso há algum tempo, eu só não conhecia ainda.
Como um bom apreciador de combos, não perdi tempo e montei minha própria lista, desta vez para o formato Commander. Ela ficou mais ou menos assim:
Joguei diversas partidas no MTGO com ela e fui me familiarizando com suas particularidades. Dentre várias coisas que valem a pena comentar (e que serão abordadas mais à frente) uma delas me chamou mais atenção em um momento: os cards exilados com a habilidade da Illuna permanecem exilados. Isto era um problema em alguns casos, pois às vezes a Omniscience estava muito ao fundo, o que fazia com que a habilidade do comandante exilasse o grimório quase inteiro, me deixando à beira da morte por falência.

Diferente do cemitério, que é uma zona do jogo de onde os cards podem ser devolvidos para a mão ou reembaralhados, não existe muito o que se fazer com o exílio. Eu estava então pensando em formas de como diminuir as chances de Illuna jogar muitos cards fora, quando me dei conta de uma coisa. E se ao invés de evitar exilar muitas cartas, eu me aproveitasse delas de alguma forma?
A ideia dos Slimes, então, voltou à mesa!
Sobre o Deck
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A abordagem de usar Slime Against Humanity como core em um deck Illuna Omniscience mostrou-se fazer bastante sentido. Este é um deck que necessita muito de criaturas, tanto para servirem de alvo para a mutação do comandante, quanto para finalizarem o jogo através do dano de combate. No entanto, ele não pode ter nenhuma criatura propriamente dita ocupando qualquer slot do deck.
Isto cria a necessidade de geradores de fichas por meio exclusivamente de terrenos (como Kher Keep), feitiços e mágicas instantâneas. Dessa forma, precisei adaptar o deck para isso consiste inicialmente em substituir todos os slots de mágicas geradoras de fichas por cópias de Slime Against Humanity.
Plano de Jogo
Illuna Slimestorm é um deck midrange/combo que possui um certo grau de dependência de seu comandante. Como dito antes, a principal jogada do deck requer a conjuração bem-sucedida de Illuna, Apex of Wishes através de seu custo de mutação, para desencadear sua habilidade e buscar Omniscience do grimório diretamente ao campo de batalha. Uma vez feito isso, as linhas de vitória se resumem basicamente a uma das seguintes alternativas:- Criar massa crítica de criaturas com Slime Against Humanity, dar ímpeto a elas com First Day of Class, Song of Totentanz ou Insurrection e atacar com todas no mesmo turno (ou no turno extra seguinte com Time Stretch).
- Conjurar tantas mágicas consecutivas quanto forem possíveis e resolver uma rajada com Temporal Fissure (você também pode usar outras wincons como Ignite Memories, Grapeshot ou Volcanic Awakening).
- Criar um lodo enorme com Slime Against Humanity e resolver uma Chandra’s Ignition. É menos provável que se consiga ganhar o jogo dessa forma.
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Em muitos casos, a simples combinação de Omniscience com diversos efeitos de compra (Petals of Insight, Time Reversal, Overflowing Insight, etc) e a resolução de big spells como Clone Legion, Ezuri’s Predation, Insurrection e Time Stretch já é suficiente para impor uma vantagem incremental gigantesca e muitas vezes irreversível.
Outra linha alternativa é ainda mais focada em Slime Against Humanity e utiliza Thrumming Stone. Sim... Omniscience não é a única permanente não terreno entre as 99. Eu optei por não abrir mão do artefato; não apenas por conta de seu incrível potencial já mencionado no início do artigo, mas também para ter alguma alternativa de combo caso o encantamento fosse perdido.

Além disso, em diversas partidas que joguei, mesmo com Omniscience já em campo, eu não consegui estabelecer uma vantagem significativa, pois as cartas da mão haviam acabado ou eu não podia comprar mais cards, pois meu grimório estava quase vazio. Com Thrumming Stone é possível fazer o swarming de lodos mencionado acima sem a necessidade de se comprar mais cartas e tendo a opção de continuar o storm até o momento que fosse conveniente parar.
Pontos Fortes e Fracos
Após jogar várias vezes com o deck e experimentar diferentes modificações, conclui-se que no saldo final ele enfrenta diversos desafios em sua jogabilidade.
O maior deles é a sua grande dependência do comandante e a fragilidade de seu combo. Existem inúmeras formas de se responder à jogada de Illuna, Apex of Wishes + Omniscience, especialmente se estiver jogando em uma mesa em que os oponentes já conhecem o deck.
Remover Illuna não impede sua habilidade de desencadear, mas remover a criatura alvo da mutação enquanto ela estiver resolvendo sim. Além disso, se em algum momento no início do jogo você tiver o azar de comprar a Omniscience antes que pudesse resolver sua Illuna, sua melhor jogada se perde, pois você terá de encontrar uma forma de devolver o encantamento para o grimório, o que pode atrasá-lo um pouco.
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Da mesma forma, Omniscience é uma permanente vulnerável à qualquer remoção de encantamentos, e caso ela vá parar no cemitério, você terá que trazê-la de volta usando Regrowth, Reclaim ou Bala Ged Recovery. Se ela for exilada, então... a potência do deck diminui drasticamente. Por isso é tão importante ter Thrumming Stone como peça auxiliar alternativa.
Se ambas se perderem, entretanto, o deck torna-se simplesmente uma pilha de bulk.

Outra fraqueza do deck é sua curva de mana relativamente alta e sua falta de interações. A quantidade de slots preenchidos com Slime Against Humanity, recursões e compras necessários para que o deck obtenha o volume que precisa acaba por diminuir o espaço para interações de custo baixo. Remoções pontuais e principalmente anulações que poderiam proteger os combos do deck acabaram ficando de fora. Esta foi uma decisão que tomei com muito pesar, e que pode tranquilamente ser revertida.
Mas acredite: você não vai querer estourar uma Fiery Islet e comprar um Counterspell quando estiver com zero cards na mão e Omniscience em campo (coisa que aconteceu comigo).
O lado bom aqui é que sua jogabilidade é muito simples e seu “combo” é bastante fácil de se fazer, característica incomum em decks Storm. Na esmagadora maioria das partidas que joguei, os primeiros turnos foram razoavelmente tranquilos e consegui colocar Omniscience ou Thrumming Stone no 4º ou 5º turno sem grandes problemas. Claro, devo ser honesto e confessar que todos estes jogos foram partidas casuais contra oponentes que não me conheciam e na maioria das vezes também não conheciam o deck. É razoável esperar que se tenha mais dificuldades em mesas onde os oponentes já sabem o que esperar.
De qualquer forma, Illuna Slimestorm não é o tipo de deck que vence automaticamente quando faz seu combo principal. Existem chances razoáveis de seu combo pifar, o que coloca este deck em uma categoria cinzenta de decks adequados para ambientes casuais (power level entre 6 e 7). Considero ele uma opção para players que esperam jogar em mesas não tão focadas, mas que não abrem mão de um combo... mesmo que seja um combo um tanto quanto tosco.
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Versão Low Budget
Tendo em vista que as únicas cartas realmente indispensáveis para estratégias sejam Slime Against Humanity, Omniscience e Thrumming Stone, é perfeitamente possível moldar a lista do deck para qualquer limiar de preço.
Modificar o deck para uma versão de baixo orçamento pode ser feito simplesmente substituindo terrenos e alguns dos cards funcionais mais caros por alternativas mais baratas e funcionalmente similares. Alguns exemplos incluem:
- Winds of Change, Valakut Awakening e Reforge the Soul por Game Plan, Temporal Cascade e Windfall.
- Insurrection por Mob Rule.
- Time Stretch por Part the Waterveil ou mesmo qualquer feitiço que dê ímpeto para suas criaturas, como Goblin War Party ou Burst of Speed, já que a principal função do turno extra é finalizar o jogo atacando imediatamente com os lodos gigantes que você acabou de criar após combar. Não é a mesma coisa, mas serve ao propósito.
- Arvoredo Dríade por qualquer manland ou terreno que produza fichas, como Treetop Village ou Springjack Pasture.
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Conclusão
O Illuna Slimestorm combina praticidade e explosão ao utilizar Slime Against Humanity como pilar, dando uma abordagem diferente e divertida. Apesar de suas vulnerabilidades, o deck oferece uma jogabilidade simples e, ao mesmo tempo, ideal para jogadores que apreciam estratégias fora do comum. Com potencial de vitória impressionante ao gerar criaturas massivas com Omniscience ou Thrumming Stone, ele é perfeito para aqueles que querem surpreender seus oponentes e trazer algo inesperado para a mesa.
Espero que tenham gostado e até a próxima... E que seus jogos sejam sempre épicos!
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